O livro analisa e critica as relações entre linguagem e escola focalizando o problema da educação das camadas populares no Brasil, mostrando que, através de pesquisas, a escola brasileira é insuficiente em quantidade como também em qualidade, ocorrendo o fracasso escolar, gerando os altos índices de repetência e evasão dos alunos pertencentes às camadas populares, haja vista que a escola pública não foi moldada para essas camadas. Esse problema deve ser atribuído à linguagem, pois a escola censura e estigmatiza os padrões lingüísticos das camadas populares.
Magda aponta a ideologia do dom, a ideologia da deficiência cultural e também a ideologia das diferenças culturais como propulsora do fracasso da escola e na escola. A ideologia do dom vem separar os alunos hierarquicamente, através dos testes de quociente intelectual (QI), entre os mais e menos capazes, ajustando os alunos à sociedade, segundo suas aptidões e características individuais. Nessa ideologia, o fracasso escolar explica-se por sua incapacidade. Já a ideologia da deficiência cultural mostra que as camadas privilegiadas seriam mais aptas do que as classes dominadas, mostrando que as desigualdades sociais têm origens econômicas e não culturais. Outra explicação é a ideologia das diferenças culturais que vem mostrar que ser diferente das classes dominantes é ser inferior, entretanto, deve-se observar que há diversidade cultural, que cada grupo social tem uma cultura específica, por isso não se explica o fracasso escolar através da ideologia das diferenças culturais. O papel da linguagem é de fundamental importância nas explicações dos dons, pois a linguagem é o principal produto da cultura, e é o principal instrumento para sua transmissão. A linguagem evidencia as diferenças entre os grupos sociais e também as discriminações e o fracasso, tendo em vista que a escola usa e prestigia os padrões lingüísticos das camadas privilegiadas.
A patologização da pobreza tratava os problemas das dificuldades de aprendizagens e do fracasso escolar das camadas populares, como sendo um problema de sua condição social e econômica, tendo em vista que o modelo adotado era o das classes dominantes.
O déficit lingüístico está relacionado ao contexto lingüístico no meio em que a criança está inserida, tendo em vista que o desenvolvimento da linguagem depende da quantidade e qualidade das situações da interação verbal entre a criança e as pessoas com quem ela convive.
Bernstein através de suas pesquisas constatou que as crianças das classes privilegiadas são conduzidas à universalização dos fatos, enquanto as crianças das classes dominadas não são estimuladas a compreender como os fatos ocorrem.
A educação compensatória surge com o objetivo de suprir carência de aprendizagens das classes menos favorecidas, tendo em vista que a escola não servia igualmente a todas as crianças. Embora várias medidas tenham sido tomadas, a educação compensatória não vingou bons frutos, pois o problema não estava nas crianças e sim na escola, que não se transformava e excluía as características culturais e lingüísticas das crianças das camadas populares.
Pode-se dizer que a língua e o comportamento lingüístico de cada povo estão estreitamente relacionados à sua própria cultura, e que os estudos realizados pelos lingüistas e pelos sociolinguistas mostram que não existem línguas melhores ou piores, deve-se observar que elas são adequadas às necessidades e características de cada cultura, e servem como instrumento de comunicação social. Na verdade as línguas são diferentes umas das outras, mas não no sentido de superioridade ou inferioridade. Assim, fica evidente que quem rotula os alunos de deficientes é a própria escola, que legitima e discrimina os alunos das camadas populares, que fazem uso de um dialeto não-padrão, diferentemente do dialeto de prestígio.
Em suas pesquisas, Labov rejeita completamente o conceito de deficiência lingüística, considera-a como um mito. Ele explica que o fracasso das crianças das camadas dominadas deveria ser identificado nos obstáculos sociais e culturais, já que, segundo ele, a situação social é quem determina o comportamento verbal. A solução seria uma reestruturação tanto da escola quanto da sociedade em geral, visando compreender que todos os dialetos são válidos e que não existem razões para discriminar os falantes do dialeto não-padrão.
Segundo Bourdieu e Passeron, “... a função da escola é perpetuar a estrutura social, suas desigualdades e os privilégios que confere a uns em prejuízo de outros... Para esses sociólogos, a escola exerce um poder de violência simbólica”. Esse fato mostra a imposição que a classe dominante exerce sobre a classe dominada, impondo sua cultura e linguagem como sendo a mais correta e legítima.
Para Bourdieu a comunicação lingüística é uma relação de força simbólica, determinada pelas relações entre os interlocutores. O valor da mensagem depende de quem a produz. O valor simbólico define o preço do discurso, que depende mais de quem fala do que de seu próprio conteúdo.
O não conhecimento da linguagem “legítima” apontado por Bourdieu é uma das principais causas do fracasso escolar dos alunos das classes populares, entretanto, é essa escola que tem a função de ensinar a linguagem “legítima”. Ela exige que seus alunos cheguem dominando essa língua, o que ela oferece é a transformação do domínio prático em domínio consciente e reflexivo. Portanto, não ensinando a língua “legítima”, a escola amplia a distância entre a linguagem das camadas privilegiadas e populares, conservando a estrutura social, a discriminação e a desigualdade, garantindo a submissão das classes dominadas aos dominantes.
Para garantir igualdade de condições de rendimento escolar, seria necessária a transformação da estrutura social como um todo, transformações apenas nas escolas surtem como reforços da discriminação.
Com a aceleração e a democratização do ensino surge então um fenômeno designado de “crise da linguagem”, devido ao uso inadequado e deficiente da língua materna, e conseqüentemente do seu ensino e da aprendizagem. Essa democratização deu amplas oportunidades educacionais às camadas populares, embora a escola não tenha se reorganizado. Diante de tais transformações ocorre uma crise na instituição escolar, mediante o conflito lingüístico que nela se cria, e pela diferença entre a linguagem das camadas populares e a linguagem das camadas dominantes.
A escola tem um papel “redentor”, que é o de libertar o aluno de sua marginalidade lingüística, e dentro dessa perspectiva ela pode e deve promover a aquisição da linguagem socialmente prestigiada, para que o aluno possa adaptar-se às exigências da sociedade, através de uma metodologia de ensino em que o aluno é corrigido, substituindo sua linguagem. Esse instrumento seria importante para conquistar melhores condições econômicas e sociais.
Pelo fato de a escola ter sido moldada dentro das relações econômicas e sociais da sociedade capitalista, que é a responsável pelas desigualdades sociais, ela continuará impotente enquanto prevalecerem as discriminações econômicas e sociais que são geradas fora dela. Mais do que impotente, a escola chega a ser perversa, pois colabora com a preservação dessas discriminações, censurando e rejeitando a linguagem das classes populares.
O texto apresenta uma escola transformadora como não sendo redentora nem impotente. Esse modelo não aceita a rejeição de dialetos das camadas populares, e sim sugere a adaptação do aluno às exigências da estrutura social. Uma escola transformada é uma escola consciente de seu papel político na luta contra as desigualdades sociais e econômicas.
As camadas populares reivindicam o direito à escola, buscando a aquisição do dialeto de prestígio. A escola, pois, é vista como solução contra as desigualdades e privilégios existentes entre as classes dominadas e dominantes.
A língua é o principal instrumento de ensino e de aprendizagem em todas as disciplinas, tendo em vista que o bidialetalismo que a escola transformadora sugere é proposto para todas as atividades escolares. As relações entre linguagem e classe social devem estar presentes numa escola transformadora, em todos os seus procedimentos escolares, muito embora ela não tenha exercido influência no ensino no Brasil.
O ensino de língua materna comprometido com a luta contra as desigualdades sociais e econômicas reconhece que, através da apropriação, do dialeto de prestígio, os alunos das classes dominadas não só se adaptem às exigências de uma sociedade, mas que adquiram os instrumentos fundamentais para participar da luta contra as desigualdades sociais.
Nessa proposta, é fundamental que a escola e professores compreendam que ensinar a língua é uma tarefa técnica e também política, tendo como objetivo principal superar o fracasso da escola, lutando contra as discriminações e as desigualdades sociais.
O texto de Magda Soares apresenta de maneira clara a escola, a clientela e também a variedade lingüística que iremos encontrar em nosso caminho como futuros professores, dando-nos informações necessárias para entendermos esse universo cheio de particularidades.
Magda aponta a ideologia do dom, a ideologia da deficiência cultural e também a ideologia das diferenças culturais como propulsora do fracasso da escola e na escola. A ideologia do dom vem separar os alunos hierarquicamente, através dos testes de quociente intelectual (QI), entre os mais e menos capazes, ajustando os alunos à sociedade, segundo suas aptidões e características individuais. Nessa ideologia, o fracasso escolar explica-se por sua incapacidade. Já a ideologia da deficiência cultural mostra que as camadas privilegiadas seriam mais aptas do que as classes dominadas, mostrando que as desigualdades sociais têm origens econômicas e não culturais. Outra explicação é a ideologia das diferenças culturais que vem mostrar que ser diferente das classes dominantes é ser inferior, entretanto, deve-se observar que há diversidade cultural, que cada grupo social tem uma cultura específica, por isso não se explica o fracasso escolar através da ideologia das diferenças culturais. O papel da linguagem é de fundamental importância nas explicações dos dons, pois a linguagem é o principal produto da cultura, e é o principal instrumento para sua transmissão. A linguagem evidencia as diferenças entre os grupos sociais e também as discriminações e o fracasso, tendo em vista que a escola usa e prestigia os padrões lingüísticos das camadas privilegiadas.
A patologização da pobreza tratava os problemas das dificuldades de aprendizagens e do fracasso escolar das camadas populares, como sendo um problema de sua condição social e econômica, tendo em vista que o modelo adotado era o das classes dominantes.
O déficit lingüístico está relacionado ao contexto lingüístico no meio em que a criança está inserida, tendo em vista que o desenvolvimento da linguagem depende da quantidade e qualidade das situações da interação verbal entre a criança e as pessoas com quem ela convive.
Bernstein através de suas pesquisas constatou que as crianças das classes privilegiadas são conduzidas à universalização dos fatos, enquanto as crianças das classes dominadas não são estimuladas a compreender como os fatos ocorrem.
A educação compensatória surge com o objetivo de suprir carência de aprendizagens das classes menos favorecidas, tendo em vista que a escola não servia igualmente a todas as crianças. Embora várias medidas tenham sido tomadas, a educação compensatória não vingou bons frutos, pois o problema não estava nas crianças e sim na escola, que não se transformava e excluía as características culturais e lingüísticas das crianças das camadas populares.
Pode-se dizer que a língua e o comportamento lingüístico de cada povo estão estreitamente relacionados à sua própria cultura, e que os estudos realizados pelos lingüistas e pelos sociolinguistas mostram que não existem línguas melhores ou piores, deve-se observar que elas são adequadas às necessidades e características de cada cultura, e servem como instrumento de comunicação social. Na verdade as línguas são diferentes umas das outras, mas não no sentido de superioridade ou inferioridade. Assim, fica evidente que quem rotula os alunos de deficientes é a própria escola, que legitima e discrimina os alunos das camadas populares, que fazem uso de um dialeto não-padrão, diferentemente do dialeto de prestígio.
Em suas pesquisas, Labov rejeita completamente o conceito de deficiência lingüística, considera-a como um mito. Ele explica que o fracasso das crianças das camadas dominadas deveria ser identificado nos obstáculos sociais e culturais, já que, segundo ele, a situação social é quem determina o comportamento verbal. A solução seria uma reestruturação tanto da escola quanto da sociedade em geral, visando compreender que todos os dialetos são válidos e que não existem razões para discriminar os falantes do dialeto não-padrão.
Segundo Bourdieu e Passeron, “... a função da escola é perpetuar a estrutura social, suas desigualdades e os privilégios que confere a uns em prejuízo de outros... Para esses sociólogos, a escola exerce um poder de violência simbólica”. Esse fato mostra a imposição que a classe dominante exerce sobre a classe dominada, impondo sua cultura e linguagem como sendo a mais correta e legítima.
Para Bourdieu a comunicação lingüística é uma relação de força simbólica, determinada pelas relações entre os interlocutores. O valor da mensagem depende de quem a produz. O valor simbólico define o preço do discurso, que depende mais de quem fala do que de seu próprio conteúdo.
O não conhecimento da linguagem “legítima” apontado por Bourdieu é uma das principais causas do fracasso escolar dos alunos das classes populares, entretanto, é essa escola que tem a função de ensinar a linguagem “legítima”. Ela exige que seus alunos cheguem dominando essa língua, o que ela oferece é a transformação do domínio prático em domínio consciente e reflexivo. Portanto, não ensinando a língua “legítima”, a escola amplia a distância entre a linguagem das camadas privilegiadas e populares, conservando a estrutura social, a discriminação e a desigualdade, garantindo a submissão das classes dominadas aos dominantes.
Para garantir igualdade de condições de rendimento escolar, seria necessária a transformação da estrutura social como um todo, transformações apenas nas escolas surtem como reforços da discriminação.
Com a aceleração e a democratização do ensino surge então um fenômeno designado de “crise da linguagem”, devido ao uso inadequado e deficiente da língua materna, e conseqüentemente do seu ensino e da aprendizagem. Essa democratização deu amplas oportunidades educacionais às camadas populares, embora a escola não tenha se reorganizado. Diante de tais transformações ocorre uma crise na instituição escolar, mediante o conflito lingüístico que nela se cria, e pela diferença entre a linguagem das camadas populares e a linguagem das camadas dominantes.
A escola tem um papel “redentor”, que é o de libertar o aluno de sua marginalidade lingüística, e dentro dessa perspectiva ela pode e deve promover a aquisição da linguagem socialmente prestigiada, para que o aluno possa adaptar-se às exigências da sociedade, através de uma metodologia de ensino em que o aluno é corrigido, substituindo sua linguagem. Esse instrumento seria importante para conquistar melhores condições econômicas e sociais.
Pelo fato de a escola ter sido moldada dentro das relações econômicas e sociais da sociedade capitalista, que é a responsável pelas desigualdades sociais, ela continuará impotente enquanto prevalecerem as discriminações econômicas e sociais que são geradas fora dela. Mais do que impotente, a escola chega a ser perversa, pois colabora com a preservação dessas discriminações, censurando e rejeitando a linguagem das classes populares.
O texto apresenta uma escola transformadora como não sendo redentora nem impotente. Esse modelo não aceita a rejeição de dialetos das camadas populares, e sim sugere a adaptação do aluno às exigências da estrutura social. Uma escola transformada é uma escola consciente de seu papel político na luta contra as desigualdades sociais e econômicas.
As camadas populares reivindicam o direito à escola, buscando a aquisição do dialeto de prestígio. A escola, pois, é vista como solução contra as desigualdades e privilégios existentes entre as classes dominadas e dominantes.
A língua é o principal instrumento de ensino e de aprendizagem em todas as disciplinas, tendo em vista que o bidialetalismo que a escola transformadora sugere é proposto para todas as atividades escolares. As relações entre linguagem e classe social devem estar presentes numa escola transformadora, em todos os seus procedimentos escolares, muito embora ela não tenha exercido influência no ensino no Brasil.
O ensino de língua materna comprometido com a luta contra as desigualdades sociais e econômicas reconhece que, através da apropriação, do dialeto de prestígio, os alunos das classes dominadas não só se adaptem às exigências de uma sociedade, mas que adquiram os instrumentos fundamentais para participar da luta contra as desigualdades sociais.
Nessa proposta, é fundamental que a escola e professores compreendam que ensinar a língua é uma tarefa técnica e também política, tendo como objetivo principal superar o fracasso da escola, lutando contra as discriminações e as desigualdades sociais.
O texto de Magda Soares apresenta de maneira clara a escola, a clientela e também a variedade lingüística que iremos encontrar em nosso caminho como futuros professores, dando-nos informações necessárias para entendermos esse universo cheio de particularidades.
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